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A pergunta é recorrente: qual é, afinal, o encanto da filosofia indiana?

 

Imagens ilustrativas do artista indiano Manjunath KAMATH,

A pergunta é recorrente: qual é, afinal, o encanto da filosofia indiana? Resposta curta: ela não é teórica.  Não está preocupada com a opinião da comunidade científica, nem presa aos protocolos do método empírico. Diferente dos nossos filósofos ocidentais, os pensadores indianos estão pouco preocupados com o conhecimento da coisas do mundo, pois entendem que o que conta mesmo é permanecer vinculado à fonte interna de sabedoria humana. Pertencem a uma tradição que endossa a vivência interior e o legado espiritual herdado da cultura como realidades a serem acessadas e significadas  por cada indivíduo. Na Índia, ser filósofo equivale a ser sábio.

No último século, um dos maiores pensadores deste naipe foi Aurobindo Ghose.  Nascido em Calcutá e educado na Inglaterra, Sri Aurobindo foi amplamente reconhecido como mestre (guru), poeta, yogue, espírito iluminado. É um autor que, baseado na própria experiência mística, propõe uma descrição filosófica e sistemática da natureza da Realidade. Seu texto faz uma síntese das ideias modernas com o melhor da sabedoria antiga.

Ainda que os termos técnicos (em Sânscrito!) por vezes compliquem a compreensão, o princípio fundamental dos ensinamentos de Aurobindo é claro: a realidade íntima de todas as coisa é uma só. Para ele, e para o pensamento indiano em geral, a mente e a matéria, ou o homem e o mundo, são “graus diversos de uma mesma energia, organizações diferentes de uma única Força de Existência consciente”. Simples.

Qual é a grande dificuldade da filosofia indiana? Ela não é teórica.  E nosso pensamento especulativo ocidental, obviamente, não é igual à vivência. Aurobindo falava de estados de consciência que havia experimentado! Entender racionalmente que somos feitos da mesma substancia das estrelas não é igual a ter a experiência de ser um com o cosmo. Assim, mais que uma leitura racional, para compreender melhor um sistema de pensamento como o dele, precisamos nos dispor a transformar como observamos, sentimos e avaliamos o mundo e a nós mesmos. Essa transformação é o objetivo das filosofias da Índia.

“Não é “discorrendo” sobre a realidade, mas sim mediante uma mudança de consciência, que podemos passar da ignorância ao Conhecimento – o Conhecimento pelo qual nos tornamos o que conhecemos.”  (Uma Psicologia Maior, p. 24)

A exigência do método não é pequena. Para ter acesso à sabedoria, é necessário questionar nossa própria identidade ao ponto de entender o que os Upanishads sintetizaram com a fórmula “Tu és aquilo” e que Aurobindo explica assim:

“Toda nossa existência depende daquela Existência, que é aquilo que está evoluindo em nós; somos um ser daquela Existência, um estado de consciência daquela Consciência, uma energia daquela Energia consciente, um desejo-de-prazer de ser, prazer de consciência, prazer de energia nascida daquele Prazer: este é o princípio gerador da nossa existência”. (The Life Divine, p.712)

Para ter acesso às idéias e propostas de Aurobindo para a Yoga e a educação em Português, visite o site da Casa Sri Aurobindo, onde encontra-se disponibilizado, entre outros, uma bela obra de Introdução à Filosofia de Sri Aurobindo, em PDF.

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LIMA, A. A. Sri Aurobindo e o fascínio da filosofia indiana, 2017. Disponível em; <http://www.ressonancias.com/sri-aurobindo-e-o-fascinio-da-filosofia-indiana>. Acesso em: dia/mês/ano.