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A vida só é possível reinventada”  Cecilia Meireles.

 

 

 

 

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Henry MATISSE, Dance (1909).

A Primavera começa essa semana e, todos sabemos, nem sempre é fácil ou viável florescer. As razões para festejar, no entanto, existem de qualquer forma. A própria realidade dos ciclos do tempo justifica o contentamento. “Porque tudo é real e tudo está certo”, disse Fernando Pessoa, “se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?”.

Selecionamos três poemas, de três grandes vozes – Adélia Prado, Cora Coralina e Cecilia Meireles.  São versos que cantam a possibilidade e potência do renascimento, em tributo a estação do recomeço.

                                        

Meditação à Beira de um Poema
ADÉLIA PRADO, em Oráculos de Maio.

Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira,
constelada,
os botões,
alguns já com o rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
joias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com o limite do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizaram-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro.

 

Aninha e suas pedras

CORA CORALINA, em Melhores Poemas.

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cântico XIII

CECILIA MEIRELES, em Cânticos.

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

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LIMA, A. A. Para brindar a primavera: Adélia, Cora e Cecilia. 2017. Disponível em; <http://www.ressonancias.com/para-brindar-a-primavera-adelia-cora-e-cecilia>. Acesso em: dia/mês/ano.