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“A alma é a parte viva do ser humano”, Jung. “Uma meta é ter tempo para a alma”, Kast.

 

 

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Gaugin, Paul. The Brooding Woman, 1891.

A vida passa, disseram outro dia, na batida do funk! (Justo do funk, entre todas as possibilidades!) Claramente, os tempos mudaram e com eles a intensidade e o ritmo daquilo que vivemos. E a velocidade do mundo atual faz exigências: mais produção, mais compromissos, mais prazos a cumprir. Nas palavras da psicóloga suíça Verena Kast,

“Na nossa sociedade contemporânea, precisamos lidar não só com a divisão do tempo. Fazemos muitas coisas também ao mesmo tempo: ocorre uma aceleração por meio do adensamento do tempo. Evidentemente, ganhamos muito com isso: temos possibilidades ilimitadas, praticamente não existem limites; podemos nos adaptar rapidamente e alcançamos certa riqueza. Mas isso causa também problemas: a oferta é tão grande que já não sabemos mais o que escolher, torna-se cada vez mais difícil saber em que confiar, perdemos a capacidade de nos concentrar em algo, perdemos também facilmente a paciência. Na superfície acontece muito. Mas onde ficam as perspectivas a longo prazo? Onde assumimos um compromisso duradouro?

Em a Alma Precisa de Tempo, Kast  faz uma reflexão sobre o quanto nos custa a adaptação à velocidade de hoje em dia. Sua afirmação principal é a de que existem aspectos importantes da vida que não são passiveis de aceleração e que, ao cedermos à pressão da sociedade por rapidez, estamos empobrecendo tragicamente nossa experiência destes aspectos.

a alma precisa de tempo“Sob a pressão do tempo, é fácil perder o vínculo entre a natureza interior e exterior. O convívio com sentimentos que estabelecem um contato conosco mesmos, com o corpo, com a psique, com os próximos e também com o mundo em  geral precisa de tempo. […] Existem áreas da vida que não podem ser aceleradas. Processos precisam de tempo. Aquilo que precisa crescer e amadurecer, aquilo que precisa desenvolver, precisa de tempo.”

O que está em risco, Kast alerta, é a interação entre nossos mundos interno e externo. Sem ela, a vida esfria , perde o brilho criativo e a nossa relação com as coisas e pessoas setorna superficial e meramente instrumental.  A proposta do que fazer é simples: desacelerar e voltar a atenção para a percepção emocional, para tudo aquilo que nos afeta, revivifica e enriquece. O caminho passa por uma maior consciência das nossas experiências sensoriais.

“Somos seres humanos, da forma como os seres humanos sempre foram: percebemos a vida com todos os sentidos e assim estabelecemos uma relação erótica com o mundo e com os próximos. Quando percebemos nossos próximos em amor por meio de nossos sentidos, quando nos sentimos sensualmente atraídos, percebemos como os sentidos estabelecem uma ligação com as pessoas, com a natureza, com o cosmo. Os sentidos nos ligam ao mesmo tempo com os mundos interno e externo. Experiências por meio dos sentidos são experiências físicas, mas que transcendem em muito a dimensão física. São ao mesmo tempo experiências da “alma” como sede da vida.”

A sugestão de Kast é uma terapêutica do tempo.  Buscar um equilíbrio entre aceleração e duração significa investir tempo na contemplação empática de nossas vivências, para que elas possam se transformar de meros eventos em experiências significativas.  Dar maior espaço e significado aquilo que nos acontece (seja bom ou ruim), disponibiliza os recursos internos necessários para que nos lembremos de quem somos e possamos nos sentir em casa na nossa vida.

“Uma meta poderia ser: ter tempo para a alma. Ter tempo, respirar lentamente, desfrutar nossas experiências – ou, quando forem experiências difíceis, absorvê-las calmamente e, depois, soltá-las.  […] Deixar os monstros para trás, não correr e não se deixar pressionar, mas conseguir sentar-se de vez em quando, ter tempo par a ressonância, para o convívio: envolver-se emocionalmente com a vida – a própria e a dos outros – e assim vivenciar intensidade – isso poderia ser uma meta. Desfrutar os momentos, mas também aquilo que perdura, criar raízes a despeito de toda a dinâmica, tentar sempre de novo estabelecer um equilíbrio na própria vida entre aquilo que perdura e aquilo que precisa mudar.”

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LIMA, A. A. Os ritmos e os sentidos da vida: Verena Kast sobre o tempo, 2017. Disponível em; <http://www.ressonancias.com/os-ritmos-e-os-sentidos-da-vida>. Acesso em: dia/mês/ano.